Google

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Carnaval, doce ilusão


Bom texto do Daniel Patrão:
Mais uma vez chega a tão sonhada hora em que toda a comunidade, depois de passar meses costurando fantasias, cantarolando por aí a letra do samba-enredo (até decorá-lo), ajudando a escola na construção do carnaval. As senhorinhas, baianas de profissão, rodam e rodam como se fossem verdadeiras meninas. Descem o morro e, por alguns minutos, viram as pessoas mais importantes do mundo, certo? Errado! Isso é só uma doce ilusão.

Faz um bom tempo que o carnaval, por diversos motivos, deixou de ser da comunidade, deixou de ser do sambista, deixou de ser das velhas-guardas para ser da mídia, dos “gringos” e de quem não entende e não faz nada pelo samba.


Muito me chamou atenção esta matéria feita pela rede Globo e publicada aqui mesmo no blog, onde se fala um pouco sobre o carnaval e sobre o mestre Candeia. Uma das maiores pessoas, negro de pele e coração, que o mundo do samba teve, Candeia lutou como ninguém contra o preconceito, contra a banalização do samba e principalmente contra esse “carnaval” que temos hoje.
Tudo em vão, pois chego à conclusão de que contra interesses pessoais e interesses "Globais", não se pode travar uma batalha limpa.

O carnaval virou um desfile de moda. Ser rainha ou madrinha das baterias virou um cargo de destaque, o melhor jeito de aparecer e de conseguir um ótimo contrato de trabalho, cobiçado por pessoas como Ellen Roche, Sabrina Sato, Viviane Araújo, Sheilas Melo e Carvalho, Grazzi, Luciana Gimenez (Super Pop), Gracyanne Barbosa, entre outras. Que maravilha!! Porém, agora eu pergunto? Cadê as musas da comunidade?

Já com relação aos intérpretes, mais decepção. Enquanto o saudoso Jamelão passou a vida à frente da Estação Primeira, o cantor Belo faz o que quer. Coloca sua mulher como rainha da bateria, tira sua ex-mulher do cargo, representa a escola de samba Mancha Verde, muda de escola, uma verdadeira festa. O que ele não contava é que no encarte do CD de sambas-enredo de São Paulo, a escola Mancha Verde fizesse um pronunciamento onde diz que por falta de respeito e de compromisso com a escola o cantor não foi à gravação do samba, como combinado. Lamentável.

Por fim, as Super Escolas de Samba S.A, a cada ano que passa estão mais distantes da comunidade. Indo aos ensaios podemos perceber nitidamente. Se formos à quadra da Rosas de Ouro então, só para poder entrar é preciso desembolsar R$ 20 reais. Sem falar nos sambas, cada vez mais sem enredo e com uma velocidade de dar inveja em qualquer Schumacher!
Daniel Patrão
Na foto, uma musa da comunidade da Nenê da Vila Matilde
Foto: Marcelo Pereira/Terra

9 comentários:

Anônimo disse...

Daniel, boa estréia no blog. Seu texto, infelizmente, reflete mesmo a realidade das Escolas de Samba, hoje. A manutenção da ala das baianas, na minha opinião, é apenas uma maneira que os donos do "show" encontraram pra não escancarar de vez a falta de compromisso deles com as verdadeiras raízes do samba. Bola pra frente.

Anônimo disse...

Muito bom o texto, descreve exatamente o que acontece hoje nas grandes escolas, isso sem falar dos supostos envolvimentos com o crime organizado, tanto em SP quanto no Rio. O triste de tudo isso é que nos últimos anos as escolas pioneiras e de tradição ficaram de fora do topo.

Anônimo disse...

Caro amigo ... a modernidade é isso. Hoje as escolas cresceram e o carnaval não se limita mais às comunidades. Isso é positivo!!! Não vejo problema também nos gringos aderirem a nossa festa, nem muito menos nas TVs usarem a imagem dos desfiles para aauto-promoção. É assim, são as regras do jogo.

Outra coisa positiva são as modelos. Qual é a crítica? Elas são lindas e fazem bem para os olhos.

Tenho a sensação que as pessoas são muito saudosistas e acabam não percebendo que a sociedade nã é estática. Somo seres humanos e históricos, por isso temos mesmo que transformas as coisas e adaptar o samba aos dias de hoje.

Pode ter certeza de uma coisa: em 2058 vai ter gente com saudade do carnaval de 2008. É sempre assim ... estamos sempre com saudade de um tempo que não vivemos.

Que tal curtir o samba hoje? que tal ver o grande progresso do nosso "rei do terreiro"? Ou será que era mesmo melhor os tempos em que bastava ter um pandeiro para ir preso? Sei não, sei não ...

Forte abraço e viva o Zé Pereira!!!

Fernando Augusto disse...

A velha discussão entre a modernidade e o saudosismo.

Anônimo disse...

Caro Daniel, o problema vai além da presença das modelos e dos gringos, a questão é que perdeu-se muita qualidade musical e até cultural com essa "modernidade";saindo um pouco de samba-enredo e escolas de samba; temos um exemplo raro de samba moderno com qualidade; -Teresa Cristina-, ela faz samba nos dias de hoje, mantendo a linhagem e a qualidade de antigamente, é muito simples falar de saudosismo...e que saudade o carnaval de 2..., poderia nos deixar?

Viva o Samba!

Fernando Augusto disse...

"Pode ter certeza de uma coisa: em 2058 vai ter gente com saudade do carnaval de 2008. É sempre assim ... estamos sempre com saudade de um tempo que não vivemos."

Isso é verdade!

Anônimo disse...

Realmente faz falta alguém como Jamelão, Carlos Cachaça, Dona Zica, Dona Neuma... ainda existem alguns sambistas que têm compromisso com a escola, como Paulinho da Viola, Alcione, Leci Brandão... mas acho que é um processo irreversível, infelizmente.

O Carnaval dá milhões a muitos, mas as comunidades continuam miseráveis.

Em contra-partida, é importante ter alguém "midiático" à frente da bateria, por exemplo, já que a imprensa é fundamental para a escola. Só que isso tem que reverter em benefício para as comunidades.

Só para completar, escolas de samba... isso é o fim da picada.

Fernando Augusto disse...

"Só para completar, escolas de samba... isso é o fim da picada".


Não entendi!

Anônimo disse...

Creio que ele considera absurdo chamar de "escola" a essas agremiações que cultuam o samba e o levam para a avenida durante o Carnaval. Mas creio que essa denominação tem uma origem histórica, antiga, que me escapa agora. Se alguém souber, explique pra nós, por favor. Se eu descobrir o motivo, coloco aqui.