Google

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Paulo da Portela volta para casa quase 70 anos depois

De Luis Carlos Magalhães

A primeira vez que ouvi falar de Paulo da Portela foi às vésperas do carnaval de 1965. Era também a primeira vez que eu havia ido à Portela.
Naqueles tempos, ainda menino, eu freqüentava muito mais a Mangueira, muito mais perto de minha casa, e o Salgueiro, no Clube Maxwell, mais próximo ainda. Não havia ainda o Portelão. Se a Portelinha era pequena para os ensaios comuns que dirá para a grande final de samba-enredos daquele ano.
A decisão foi no Imperial Basket Clube, ali mesmo na estrada do Portela onde é hoje o Ponto Frio. Eu estava lá.
Para quem foi a dois ou três ensaios na Portelinha, o Imperial era gigantesco; mesmo assim pequeno demais para aquela noite. Era o carnaval do quarto centenário. Todas as escolas do Grupo Especial tiveram como enredo a cidade do Rio de Janeiro que completava 400 anos. Quase todas as escolas dos Grupos de Acesso também.

Sambas memoráveis como “Os cinco bailes da história do Rio” de Silas de Oliveira, Ivone Lara e Bacalhau; História do Carnaval Carioca – Eneida , de Geraldo Babão e Valdevino Rosa, tremendo “lençol”, 48 versos, e sambas belíssimos de Lucas e da Capela.
A Portela decidia ali o samba para o enredo de Nelson Andrade “Histórias e Tradições do Rio Quatrocentão”.
Nunca vou poder esquecer esse dia. Eu e os outros meninos da minha distante rua, sem que nossos pais tivessem idéia de onde estávamos naquela noite de sábado de 1965.
Lá pelas tantas, ao ser divulgado o resultado final, em meio àquela imensa euforia, os compositores vencedores foram chamados ao palco.
Vi então um negro enorme, corpulento, com olhos muitos expressivos, entre- passando as mesas do salão. Um sorriso muito largo e forte saudava a todos que o aplaudiam.
Era Candeia, talvez em seu último dia de glória como sambista, com seu parceiro Waldir 59.

Não era a primeira vez que eu o via pela “primeira vez”, mas este é um tema para oooooutra conversa..
Foi também naquela mesma noite ( Que noite!) que ouvi pela primeira vez falar em Paulo da Portela. Eram dois sambas de quadra de autoria do então jovem Monarco que já ali assumia seu comovente mister de ser o contador das histórias da Portela, as mais bonitas histórias da Portela.
Monarco contava e cantava em um dos sambas sobre um menino chamado Paulinho que, segundo ele, era o sucessor do outro Paulo. Um samba era “Passado de glórias”, o outro “De Paulo da Portela a Paulinho da Viola, ambos em parceria com Chico Santana.
De Paulinho, o da Viola, eu já ouvira falar. Havia visto um show ou dele ouvido algum samba. Do outro Paulo, o da Portela, eu nada sabia.
E fiquei ouvindo Monarco dizer que “Paulo e Claudionor (passista lendário, maior de seu tempo) quando chegavam às rodas de samba todos corriam pra ver”. E Monarco seguia “... no livro de nossas histórias tem conquistas a valer”. E concluía cantando que se fosse ali contar todas as glórias da Portela aquela noite não ia terminar.
Aquele samba tão marcante seguia dizendo que “... Paulo, com sua voz comovente cantava ensinando a gente com pureza e prazer”.

Neste sábado, Paulo voltará para sua escola quase setenta anos depois; seu busto estará ao lado de Natal, outro galho daquela mangueira que está lá até hoje.
Todos nós devemos estar lá no Portelão, todo o povo do samba, portelenses ou não.
Devemos levar nossos filhos... E homenageá-lo como se estivéssemos ali querendo dizer a ele, nós e nossos filhos, que seu nome jamais cairá no esquecimento.
Ali ao lado de Natal estará Paulo Benjamim de Oliveira, o Paulo da Portela.
O maior de todos os bambas.

Leia na íntegra aqui.

Nenhum comentário: